segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Für Elise

" ouviria as piores notícias dos seus lábios "

(...)

Deixou que os pés descalços passeassem sozinhos, que os dedos dos pés formassem um romance qualquer com as conchas de que ele nunca iria ouvir falar e que seria escrito pela Sophia de Mello Breyner numa outra vida, quiçá em dois dísticos e uma quadra.

O vento suspirava canções de amor für Elise, as gaivotas soltavam gritos existencialistas que Miguel tentava não ouvir. Enterrou as mãos nos bolsos. Bem fundo, como se enterra no quintal um animal de estimação. Desesperadamente, miseravelmente, com a consciência de que se põe fim a algo.

Miguel queria pôr fim.

(...)

A Teoria do Caos

por detrás dos meus olhos
tu és uma tempestade.
a tua luz breve e desenfreada
é seguida do rugido glorioso.


os pardais espalham-se pelo
céu noctuno,
pedaços recortados à escuridão.


por detrás dos meus olhos
--no mundo dos contrários,
condensação das lembranças--
os teus beijos são
no meu ombro.


as ondas atentam
em interminável onomatopeia
contra a praia vazia.


por detrás dos meus olhos
onde nada me alcança
tu tocas-me.
pestanas no meu rosto
(no ruge-ruge de uma porta
oleada);
mão na minha perna
(relâmpago--trovão);
unhas nas minhas costas
(a teoria do caos).


quando as borboletas batem as asas
acontecem coisas como
nós.


--
para o carlitos, (os heróis fazem-se assim), num dia como os outros (e vai daí...)

Canção -- "Lloyd, I'm Ready to Be Heartbroken," Camera Obscura