terça-feira, 27 de abril de 2010

nothing of consequence 1

não queria mais esquecer quem era nem perder a sua própria importância no infinito das horas, não queria mais deixar-se para trás por entre anos luz de história que apenas começamos agora a descortinar, não queria que o suor nas palmas das mãos algum dia deixasse de a fazer sentir-se empapada, de a fazer sentir-se nos trópicos, no congo talvez onde as florestas vibram de vida suja e desconhecida cheia de gritos sobrenaturais, de a fazer sentir-se trabalhadora, de lhe manchar os trabalhos com o compasso, desenhos de prédios muito grandes onde ela se poderia perder um dia a mostrar aos netos onde tinha decidido pôr todas as despensas.

não queria que os outros se esquecessem mais dela, não queria ser deixada de fora de nenhum convite, não queria ser esquecida nas festas de aniversário nem nos jantares de casamento nem nas viagens de foguetão a marte onde havemos de ir conhecer o nosso próprio passado escondido nos encombros de um meteorito despenhado há mil civilizações que tinha o piloto embriagado de pós lunares.

não queria que esta geração a deixasse para trás onde as coisas não tinham importância, queria antes continuar a dançar e a perder-se entre as galáxias à velocidade da rotação da terra, bem lenta. escondemos nela aquilo que não gostamos em nós pois é mais fácil não gostar de um planeta do que daquilo que existe dentro dos nossos crânios, a dimensões microscópicas.

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