quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

torres

inspirado por este post no Cogito Ego Sum.

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o esquecimento parece ser a única forma
de respeitar as nossas memórias.
as fachadas dos edifícios e as ruas calcetadas
dissolvem-se umas nas outras,
tornam-se mais vagas e, ao mesmo tempo,
crescentemente belas.

a simplificação do mundo surge
como uma necessidade,
um pretexto para nos sentirmos muito melhores,
como se fôssemos mais humanos
por transformarmos aquilo que vemos
à luz da nossa perspectiva inovadora
e, em muitos sentidos, absolutamente aterrorizada.

nos viadutos sobre as nossas cabeças
e nos túneis debaixo dos nossos pés,
a apologia da velocidade,
um grito futurista de libertação detestável de tudo o que foi
princípio ético duradouro através das eras.

rodopiam todos ao redor das nossas cabeças,
os rápidos, os fortes, os altos,
a torre de babel de um novo mundo, cada vez mais gigante,
a tentar meter mais espaço
entre os pés e o chão,
a torre sears, as torres petronas, e mesmo o world--
o world trade--
o world trade center.

tratamos com respeito
as nossas recordações individuais e colectivas
com o esquecimento gradual de perder o medo
ao metropolitano e aos aviões
e escondemos o terror dentro de nós
onde só nós podemos vê-lo,
assim vale menos.

damos as mãos na escuridão porque
uma ilusão da PIDE nos persegue ainda
com as mãos postas nos olhos a fazer de binóculos
à procura dos mais ferozes violadores e das mentes mais perversas
para prender para guardar a inocência do estado.

inocente, o estado
sentou-se ao cimo da torre vasco da gama
a ver e a chorar
o terror que tem por dentro.

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