quinta-feira, 7 de maio de 2009

Nero

arde,
o teu fumo enche-me as narinas
faz-me sentir vivo--
quase como se eu estivesse
mesmo.


uma vez eu vi um pássaro
cair em chamas
do meio de uma tempestade.

nada mais belo desde aí.

fico em silêncio junto às janelas
à espera da pilhagem,
da calamidade que venha fazer
cair toda esta história e
livros-escravos-mãos-recordações
em cinzas azuis na noite.

uma vez eu vi um vulcão
extinto e distinto no horizonte
(mas era mentira, e se eu soubesse
tinha ficado para ver)

os imperadores viram bem crescer
um império debaixo das sandálias
--gerações e gerações de ensinamentos
de línguas estrangeiras e modas e moedas
e emoções e romances com mulheres
de pele escura e de outros
mais exóticos continentes--
e eu sei ver agora tudo isso
desmoronar-se aos meus pés
em menos de quinze segundos.

e tudo aquilo de que preciso
é uma
faísca.

--
Reza a lenda que o Imperador Nero tocou cítara enquanto Roma ardia, após lhe ter ateado fogo.
Não é perturbadoramente belo?

Música: "Dear Darkness", PJ Harvey

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